5. A cirurgia macabra
De repente, senti uma dor no pé. Logo me lembrei da necrose que carregava. Aquilo exalava um fedor pútrido de pele e carne morta. Peguei o canivete que tinha encontrado e pus-me a cortar o ferimento. Era um processo árduo e doloroso, mas eu parecia já ter me acostumado com a dor. O canivete não estava afiado o suficiente, fazendo com que a carne fosse dilacerada. Eu estava inexpressivo, mas um espasmo involuntário me fizera acordar do meu devaneio. Eu acabara de dilacerar parte de um nervo, e a dor percorria o meu corpo. Espasmos seguidos vindo sem parar me faziam ter a sensação de que a minha cabeça iria explodir. Eu me contorci tentando amenizar a dor. Suava frio. Estava em êxtase, e os espasmos não cessavam. A dor era tanta que eu fiquei tonto. Por fim, a dor foi acabando, os espasmos cessando, até que eu consegui ouvir os batimentos cardíacos vibrando no meu pé, e com eles, um filete de sangue se esvaia devagar.
Eu não conseguia mais mexer meu pé corretamente, pois tivera que tirar um grande pedaço de carne dele. Só agora, olhando para o rombo que ficou, foi que eu pude perceber a real dimensão do estrago. Refiz as ataduras e os curativos, peguei um remédio contra dor que eu tinha, comi algumas barras de cereal e alguns pepinos em conserva e fui dormir. Eu estava aquecido no meio de uma grossa camada de folhas. Eu estava tão exausto que nem me preocupei em me proteger de animais selvagens. Fiquei pensando no que ocorrera naquele dia, até que o sono me venceu.
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