8. A casa da minha avó é destruída
Meu pai virou as costas para a janela. Minha mãe olhava do sofá para fora. Então, quando menos se esperava, a bomba atômica foi detonada.
A sala foi iluminada por um brilho sobrenatural. Do lado de fora parecia haver dois sóis. A luminosidade foi se tornando cada vez mais forte, e a luz ofuscava qual fosse a direção em que se olhava. O chão, poucos segundos após o clarão, começou a tremer. Vasos de barro, que ficavam na janela, trepidaram e caíram. O temor foi ficando mais forte e os vidros das janelas da casa foram se quebrando, um por um, até não restar mais nada. Meus pais e meus avôs jaziam no chão, derrubados pelo tremor. Eles tentavam desesperadamente se levantar, mas não conseguiram. Meu pai, enfim, conseguiu se levantar a tempo de ver uma enorme coluna de fumaça: era a onda de impacto. Por um segundo, a calmaria reinou, parecia um momento de clareza, daqueles em que a sua vida passa diante dos seus olhos. Parecia que todos acatavam a destruição por vir. Um furacão de emoções invadia a mente, e de repente o impacto atingiu a casa. Todos foram arremessados contra a parede, que ao mesmo tempo ruía e se despedaçava no ar.
A casa rachou e sucumbiu. Depois que o turbilhão passou, a casa estava destruída. A sala, onde todos estavam, havia sido completamente detonada. Os sofás estavam jogados de lado, a TV tinha quebrado, os armários se reduziram a tábua sobre tábua. A fiação elétrica estava toda exposta, deixando o ambiente mais perigoso. A parede da frente havia caído e o telhado tinha se inclinado na frente, formando uma espécie de rampa por cima da casa. Os quartos, mais atrás, estavam inteiros. Só estavam com as janelas quebradas, as paredes rachadas e os móveis revirados. Na cozinha, o botijão de gás havia explodido e detonado todo o cômodo. A cozinha estava em chamas, e o meu avô e meu pai procuravam pelas suas mulheres, que estavam embaixo dos escombros, gritando por ajuda. Depois de serem retiradas dos seus (quase) túmulos, averiguou-se que elas só tinham cortes e escoriações, como o meu pai e meu avô. Eles também tinham algumas queimaduras, mas depois do susto, eles mal se importavam.
Todos eles saíram na rua para ver como o lugar estava. E rua, que antes era lisa e perfeita, agora era um pedaço de asfalto em cima de outro. A rua estava esburacada e rachada. A poeira ainda assentava, mas colunas de fumaça já eram visíveis se levantando das casas das redondezas. Meu pai deixou escapar um suspiro de medo, pois não conseguia, mesmo que tentasse, dizer alguma coisa. Com o tempo, várias pessoas se juntaram no meio da rua, algumas sangravam, outras não, mas todas estavam empoeiradas com se tivessem passado por uma tempestade de areia – o que de certo modo, de fato, passaram. Sirenes de ambulâncias podiam ser ouvidas por toda a cidade, dando idéia da proporção da destruição. Visível da casa da minha avó, do centro da cidade erguia-se mais fumaça do que em outras regiões e no meio de tudo, um solitário prédio firmava-se como uma lápide no meio da desolação. De repente, poeira desceu dele, e ele ruiu. Uma densa poeira levantou-se, indo deitar-se nos escombros das casas mais próximas.
Bem longe dali, lá estava eu, inconsciente, caído em um córrego. Neste momento, minha mãe lembrou-se de mim e desabou aos prantos. Meu pai a segurou antes que ela caísse no chão. Ela, raivosa, gritava aos quatro cantos querendo saber onde e como eu estava. No seu interior, um fio de esperança ameaçava extinguir-se a qualquer momento. Ela gritava e praguejava amaldiçoando quem soltara a bomba, mas sua expressão era frágil. Logo ficou em silêncio. Ajoelhou-se e começou a pensar consigo mesma, soluçando.
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