Era uma tarde tranqüila. No céu azul nuvens brancas passavam sendo levadas pela brisa. Pássaros cantavam, dando a sensação de paz. Carros passavam em frente da minha casa, enquanto arrumava minhas coisas. Da janela a luz do sol vinha e banhava o meu quarto, dando vida ao cômodo. Uma goiabeira frondosa, plantada no jardim da minha casa, deixava um cheiro delicioso no ar. Dali a alguns minutos, meus amigos chegaram. Dimitri, um dos cinco que estavam lá me chamou.
-Eliakim!- gritou.
-já vou!- respondi.
Desci correndo as escadas, dei um abraço na minha mãe e disse para ela mandar um abraço pro meu pai, que não estava em casa. Passei na dispensa e peguei uns marshmellows. Abri a porta da varanda e dei de cara com o meu cachorro, o Martin. O Bull terrier me olhou com seu dinossauro de plástico na boca, pedindo que eu jogasse. Mas eu disse que hoje não, e afaguei o seu pescoço e saí.
Meus amigos me esperavam ansiosos, rindo e gritando, felizes por estarmos fazendo o que há tempos planejávamos: iríamos acampar num tipo de descampado, cercado por florestas, bem longe da cidade. O Seu Michel, um polonês pai de um amigo meu nos esperava no carro. Entramos. Ele nos levou pela estrada até o lugar escolhido. Passamos por vastas plantações de trigo, que ondulavam ao vento, parecendo um mar amarelo.
Passamos meia hora sem ver nenhum outro carro na estrada, e a cidade já tinha ficado muito pra trás. Só o que víamos era uma mata assomando-se a nossa frente. Seu Michael nos desejou sorte e juízo, disse para tomarmos cuidado. Pegamos nossas malas e mochilas com suprimentos, barracas, travesseiros e claro, varas de pescar. Havia um córrego por ali. Despedimo-nos do polonês e seguimos caminhando atravessando uma trilha.
O silêncio acalmou nossa ansiedade e durante o trajeto, passamos a observar as árvores, flores e pássaros que a região abrigava. Eu nunca tinha visto nada daquilo, e pra mim era um mundo novo. Por fim chegamos ao descampado e preparamos as barracas ao lado de um córrego no qual nadamos por horas. A água era cristalina e os peixes faziam cócegas mordiscando nossos pés.
Fiquei pensando na sorte que tínhamos em podermos ver um lugar tão bonito. Iríamos ficar lá por algumas semanas, e depois que acabasse a comida que nos trouxemos, iríamos nos alimentar com as coisas da mata. As férias fazendo aula de escoteiro nos renderia facilidade para lidar com a mata. Tínhamos responsabilidade, já. Eu estava com dezoito anos e o mais novo dos cinco era o filho do polonês, co dezessete.
Nada poderia dar errado, pensei comigo mesmo. Nada, até aquela trágica noite.
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