4. A montanha de corpos
Ao longe, vi uma forma irregular que se erguia da terra. Fui chegando mais perto ate que pude sentir o cheiro de putrefação que enchia o ar. Já nítido, pude descobrir o que era: uma montanha de corpos, um cemitério que não tinha túmulos nem covas, apenas corpos. A maioria era de soldados, mas também tinham alguns civis. Notei que não havia abutres ou coisa do tipo, porque provavelmente eles também estavam mortos. O pensamento de solidão me invade a cabeça, mas tento não pensar nisso. Foco meu olhar em alguns soldados: percebo que eles carregam consigo cantis. Peguei vários e me deliciei com água limpa, que me purificou até a alma. Notei também que alguns soltados tinham provisões. Consegui achar uma bolsa de militar, toda rasgada e chamuscada, e coloquei o máximo de alimentos que pude dentro dela. Os alimentos eram barras de cereais, pastas sabor disso e sabor daquilo, coisas que eu nunca tinha visto na minha vida, mas também tinham conservas de pepinos, leite condensado, carne seca em tiras e alguns saquinhos de amendoins torrados. Após por tudo dentro da bolsa, segui procurando por coisas úteis. Achei dois canivetes, um com cabo de marfim, com a lâmina de aço inoxidável polida e bem afiada e outro com cabo de madeira esculpida de forma intrigante, com um anel dourado nas extremidades, com a lâmina curva, arrebitada para cima, grafada com os dizeres “coragem e determinação”. Dizeres com os quais me identifiquei. Achei também um facão comprido, de ferro, não muito bonito, mas bem útil. Achei também uma pistola e munição, que eu peguei por segurança.
Saí às pressas do local pois uma forte tempestade se aproximava. Nuvens negras se erguiam acima de mim, e o vento ondulava a relva, aonde ela ainda existia. Fiquei assustado: nunca vira uma tempestade tão negra ou tão ameaçadora quanto essa. Olhei a frente. Tinha de chegar a uma colina antes que a tempestade começasse. Mas no estado em que eu estava, demoraria uns 40 minutos para chegar até lá. Se estivesse são, chegaria em 20 minutos.
A colina demarcava o início de uma mata, e ali eu poderia me esconder da chuva. Já estava quase lá quando um raio anunciou o início da tempestade. Os ventos já me castigavam-me dificultando a progressão antes da chuva começar, mas agora, tudo piorara. As gotas de chuva eram muito grandes, e seu impacto ardia. Começou a chover pedra, e em um ou dois minutos já estava tudo alagado. Eu notei que essas pedras de gelo estavam enegrecidas, como se tivesse congelado coca-cola. As pedras açoitavam minhas costas, mas eu já estava conseguindo chegar à colina. Alguns minutos depois, cheguei ao seu sopé. Era uma subida sem obstáculos ou íngreme, mas o que dificultava o trajeto até a mata era o fluxo de lama que descia colina abaixo como um rio revolto.
Enfim, depois de muito esforço, consegui chegar à mata. Logo na entrada, havia arvores altíssimas e com o tronco largo, algumas talvez com milhares de anos. Logo me ajeitei entre as raízes calejadas de uma árvore-gigante. Ali pude ficar sem que a chuva me molhasse. O teto de folhas daquela árvore fazia uma boa proteção.
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