Apresentação

A ideia de criar um blog me perseguia a tempos. Foi só numa aula de redação que ocorreu o pontapé inicial. Uma proposta de criar um blog e escrever, valendo nota. Atualmente, não estou preocupado ou me importando com a nota. Gostei de bloggar, e farei isso com prazer!
Ivan Koelsch

Mural

Muito bem, gente...
depois de quase um século sem atualizar meu blog voltei com esse mural novo...
Meus foguetes ainda estão lá, firmes e fortes, mas "aposentados até as férias". Comecei a fazer algo bem diferente: Bombas de fumaça! Comprei o ingrediente principal no mercado livre (KNO3) e é bem legal. Minha mãe não me deixou fazer DENTRO de casa, então eu, muito engenhoso, cavei um buraco no chão, com tamanho o suficiente pra caber umas 4 telhas empilhadas. Então eu achei uns tijolos daqueles de churrasqueira, e coloquei-os em volta do buraco. Coloquei areia e umas pedras amarelas em volta. Recentemente eu passei cimento em volta pra não sair fumaça por todos os lados. Até que ficou bom. Achei uma chapa redonda de panela (que se põe embaixo da dita-cuja) e pus em cima do "forninho". Ali eu coloco lenha e faço a bomba!
comecei hoje (dia 31) a fazer pólvora! deu certo até agora...
Ivan

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Décimo terceiro trecho

12. Confronto na mata
    A floresta estava ficando muito mais densa, e eu já tinha que usar o facão para passar pelas folhas. Então, vi uma coisa muito estranha: uma trilha. Ela estava meio escondida pois a relva a dominava. Ela parecia ter sido usada recentemente. Um tiro ecoou pela mata, e veio transpassando as folhas no caminho até explodir no tronco de uma árvore a centímetros da minha cabeça. Arregalei os olhos numa injeção de adrenalina. O mundo explodiu numa bola de luz ofuscante. Um espasmo varou meu corpo, fazendo minhas costas arquearem como instinto. Um fogo se acendeu dentro do meu peito e subiu até o crânio. meu coração acelerou os batimentos loucamente, meus músculos se retesaram e meus sentidos ficaram aguçados. Comecei a correr.
    Corri como nunca correra antes. As árvores entravam e saíam do meu campo de visão como vultos, e eu continuava correndo rapidamente.minha respiração estava acelerada, os olhos pulsando. Depois de um momento de fixação num certo ponto da mata, olhei para o lado e, à distância, haviam dois soldados. Num outro jorro de adrenalina, virei para o lado contrário, escorreguei e caí. Bem nessa hora, um tiro explodiu acima de mim –bem aonde minha cabeça deveria estar-. Deslizando, fui parar embaixo de uma folhagem grossa. Ali ninguém poderia me ver. Eu havia deslizado uns cinco metros para dentro da “floresta”. Me acalmei um pouco. Só um pouco. A fúria estava tomando conta de mim. Tudo porque me atacaram antes sem perguntarem quem sou!
    Então, dois soldados vestidos com coletes cor de musgo passaram por mim. Gritavam um com o outro em uma língua que eu não entendia e não fazia ideia de qual era. Era a chance da qual eu precisava para escapar. Peguei a minha arma, e isso me trouxe uma raiva psicótica à tona. Cerrei os punhos e rangi os dentes. Meus olhos pareciam ter feito “plec”, e vi estrelinhas à minha volta. Fui rastejando de barriga pra baixo até chegar ao limite aonde estavam as folhas. Me posicionei e atirei. Um dos soldados voou para frente, com sangue espirrando em jorros para todas as direções, saindo de sua cabeça como se eu tivesse atirado em uma abóbora. O outro soldado virou-se de sopetão, e eu atirei de novo. A bala atravessou a sua boca de lado, rasgando-lhe as bochechas, arrancando parte de sua língua e destruíndo alguns dentes. Ele cambaleou tonto, – deveria estar com uma dor de dente horrível-  segurou a cabeça num esforço para conter a dor. Ele fez menção de pegar sua pistola e atirar, mas antes disso, eu atirei primeiro. O tiro cravou-se no seu peito, e ele desfaleceu. No chão, tremeu por um ou dois minutos, e morreu.
    Fui rastejando até onde os corpos descansavam, e peguei a munição das pistolas deles, que eram iguais às da minha. Peguei  duas granadas. Assim que fiz isso, uma terceira granada surgiu no meio dos corpos. Outro jorro de adrenalina me invadiu e eu saltei como um gato e corri. Lancei-me atrás de um grosso tronco, arma à postos. Os corpos explodiram em vários pedaços, entranhas voando para todos os lados. Uma enorme poça de sangue se formou no local, e uma perna caiu do meu lado. Fiquei horrorizado, e saí correndo. O som de uma metralhadora ecoava pela floresta. Tiros explodiam logo atrás de mim. Cheguei num abismo e pulei. Não pensei duas vezes. Foram alguns segundos de pânico e outros de adrenalina. Por fim, caí num rio, e fui arrastado pela correnteza.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Décimo segundo trecho


11. Procura
    Meus pais estavam na delegacia, olhando a lista dos desaparecidos,  procurando pelo meu nome. Na coluna “Status”, em alguns estava escrito “ENC” de encontrado, em outros ,“HPT”de hospital, e logo abaixo vinha o endereço. Já no meu, estava como em muitos:“DES”, de desaparecido. Meu pai resolveu olhar outra folha, afixada na parede, intitulada “RECONHECIMENTO”. Nela, haviam fotos dos encontrados, bem como uma coluna de status, preenchida com “ARC” de aguarda reconhecimento ou “REC” de reconhecido. Minha foto não estava naquela folha.
    Minha mãe chorou enquanto voltava para o carro. Meu pai tentou confortá-la, sem sucesso. Eles voltaram para sua própria casa, que ficava do outro lado da cidade e não tinha sido atingida. Todos os nossos parentes estavam lá. Com as casas destruídas, foi o único lugar para onde poderiam ter ido.
    Um silêncio mórbido dominava a sala de estar, e ninguém arriscava a dizer uma palavra. O silêncio foi cortado por batidas insistentes na porta. Meu pai atendeu. Era um policial, e segurava um papel. Eles se cumprimentaram e o policial disse que haviam encontrado um garoto que batia com a descrição que meu pai havia dado. Dizia ser eu. O policial disse que eu estava no hospital central, desacordado. As mãos do meu pai tremeram. O policial entregou ao meu pai um papel que continha uma foto, e perguntou se era eu mesmo. A foto era de um garoto magrela, encolhido, com o cabelo ensebado e as mãos queimadas. Na palma de uma das mãos uma pedra tinha se fundido com a pele derretida. O garoto estava entubado e respirava por ajuda de máquinas. Uma sonda administrava os nutrientes que ele precisava. Do garoto saíam dezenas de fios. Era preocupante. Sua perna estava engessada e seu pescoço, imobilizado. Em alguns dedos da mão mais queimada haviam riscos de canetinha, traçados. Os dedos estavam enegrescidos e seriam amputados dali a pouco. Ele estava com vários pontos no rosto, e os olhos estavam roxos. Meu pai gaguejou. Ele conseguiu dizer que este não era eu, e sim um colega meu, o J. Heming,  cuja família morava na casa em frente. Ele estava comigo no acampamento. Meu pai apontou para a casa deles e disse para o policial ir lá.
    O policial agradeceu e se dirigiu à casa dos Heming. Meu pai ficou parado na porta de casa, imaginando se eu não estava em estado igual.

sábado, 9 de abril de 2011

Décimo primeiro trecho


10. Noite
   Acordei suado,com uma brisa fria penetrando meus ossos. Já era fim de tarde, mas ainda estava claro. Desci da árvore, peguei minhas coisas e continuei andando. Mais à frente, um abismo se abria no meio do caminho. O paredão de pedra, mais abaixo, reluzia com os últimos raios dourados do sol. Olhei em volta para ver se tinha como passar pelo abismo, mas não vi nada. Notei um grande cipó, que era a minha única opção. O cipó amarrava-se numa grande árvore ao meu lado. Peguei o facão e tirei uma lasquinha da planta, para ver se estava viva. Estava. “Que bom”, pensei. Se estivesse morta com certeza arrebentaria. Agarrei o cipó e respirei fundo. Aquilo era um buraco e tanto. Saltei. Começo a acelerar rapidamente. Sinto o vento bater nas minhas orelhas. Quando começo a escorregar, bato contra o paredão. Larguei o cipó. Quase caí no abismo, mas me agarrei numa fenda na rocha e comecei a escalar. Por sorte, eu havia parado a poucos metros do topo. Dali uns cinco minutos, eu cheguei no topo.
    Continuei andando.comecei a olhar em volta e vi uma paisagem incrível. Samambaias de vários metros de comprimento saem das rochas de onde brota umidade. Musgo e líquens dominas as pedras da região. Flores enormes e exóticas enfeitavam o caminho. O lugar estava úmido, e, ao longe, ouvia-se o som de uma cachoeira. Atrás de umas pedras um rio veloz e turbulento corria. Da terra úmida brotavam cogumelos, e alguns eram do tamanho do meu pé. Orquídeas de todos os tipos repousavam no tronco das árvores. Pássaros gorjeavam por toda parte, procurando um lugar para passar a noite. Olhos cintilantes de um gato selvagem me espiavam do meio do mato.
    Os grilos e cigarras já começavam a sua serenata. A claridade já estava se esvaindo, formando um pôr do sol inebriante. Vaga-lumes já começavam a aparecer aqui e ali, vagando e me acompanhando lado a lado. Um sapo amarelo cruzou meu caminho coaxando à procura de insetos.
    Cheguei à cachoeira e vi que atrás da coluna de água havia uma caverna escondida. Entrei. A rocha formava uma espécie de cúpula. A cachoeira formava uma cortina bem na entrada, mas um pequeno caminho podia ser transposto. Lá dentro, assei mais cobra e comi. Depois, deitei de lado e tive uma noite tranquila, mas sem sonhos.   

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Décimo trecho

9. Caça ou caçador?

Eu estava caminhando pela floresta em silêncio, ouvindo o coaxar de sapos e gorjeio dos pássaros, numa calmaria sobrenatural. Então, tive a impressão de estar sendo seguido, vigiado, também. minha nuca formigou e eu comecei a suar frio. Dali a um tempo, a sensação aumentou de intensidade e eu quase que podia ouvir um som de algo arrastando a folhagem. Quase. parecia que eu estava imaginando coisas, mas decidi tirar a dúvida. Virei-me de repente. não vi nada além da imensidão da floresta. Mas aquilo não me acalmou. tampouco me senti mais seguro. Ao contrário, o medo do desconhecido já começava a me invadir. Eu me perguntei se não estava ficando louco. entrei num declive, que mais pra frente se tornava uma inclinação mais abrupta, mas fácil de transpor. Lá era um vale, e a névoa que sobrou da madrugada refastelava-se sobre as gramíneas  e pedras cheias de musgo. a visão era difícil. Ouvi um barulho de folha seca se despedaçando, e um calafrio percorreu minha espinha. os pelos da nuca se eriçaram, e eu entrei num estado de alerta. Era uma sensação indescritível, instintiva. Me virei, mas não vi nada. Mais barulhos, mas eu não sabia de onde vinham. um som de chocalho foi a prova de que eu corria perigo. Saquei o facão e a adrenalina me subiu às têmporas, fazendo-as saltarem.
    Continuei andando, pé ante pé, com o facão na mão, o coração pulsando violentamente. A maldita cobra sibilou e se ergueu, frente a frente comigo, e eu congelei até os ossos. não consegui esboçar reação, mas um sentido de urgência me devolveu a coragem. A cobra abre sua bocarra e eu vejo uma fileira de dentes pontiagudos, enormes, prontos para me comerem vivo. Ela prepara o bote, mas num último momento desce até o chão e começa a se contorcer rapidamente. percebo a tempo o que ela estava quase conseguindo fazer: me enrolar e esmagar. Vejo que a cobra é colossal, e largo o facão. Ele não adiantaria nada com uma criatura daquele tamanho. saco a arma e atiro na névoa. A cobra emite um guincho agudo, avassalador, e de repente me aperta.dou mais três tiros, e a cobra afrouxa. Mas ainda se debate e contorce, querendo me picar. Seus dentes passam rentes ao meu braço, e eu os sinto fisgarem na mochila. num ato reflexo, me viro a atiro. Acerto a cabeça da cobra, e ela morre.
      Com esforço tremendo, levantei o corpo da cobra e fugi daquele lugar agourento. Numa clareira, cortei a cabeça da cobra e abri a barriga. Retirei tudo que não era carne, e o resto deixei. lancei os órgãos no mato. Que os abutres comam- pensei. Depois disso, fatiei a cobra em tiras, que dali a pouco serviriam de almoço. peguei um galho do tamanho de uma flecha e atravessei em três pedaços de carne. Consegui fazer fogo, e deixei a carne assar.Eu a virava constantemente, para assar unifomemente. depois de um certo tempo, a carne estava pronta. arrisquei uma mordiscada e gostei. Claro que eu preferiria muito mais a comida da minha mãe, mas tudo bem. A cobra tinha um gosto diferente, que lembrava um pouco o frango, mas tinha um sabor mais marcante. guardei os outros pedaços crus na bolsa ( uns 30), e trepei numa árvore para descansar. Tirei um cochilo. Acabei dormindo, e tive um pesadelo.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Nono trecho

8. A casa da minha avó é destruída
      Meu pai virou as costas para a janela. Minha mãe olhava do sofá para fora. Então, quando menos se esperava, a bomba atômica foi detonada.
      A sala foi iluminada por um brilho sobrenatural. Do lado de fora parecia haver dois sóis. A luminosidade foi se tornando cada vez mais forte, e a luz ofuscava qual fosse a direção em que se olhava. O chão, poucos segundos após o clarão, começou a tremer. Vasos de barro, que ficavam na janela, trepidaram e caíram. O temor foi ficando mais forte e os vidros das janelas da casa foram se quebrando, um por um, até não restar mais nada. Meus pais e meus avôs jaziam no chão, derrubados pelo tremor. Eles tentavam desesperadamente se levantar, mas não conseguiram. Meu pai, enfim, conseguiu se levantar a tempo de ver uma enorme coluna de fumaça: era a onda de impacto. Por um segundo, a calmaria reinou, parecia um momento de clareza, daqueles em que a sua vida passa diante dos seus olhos. Parecia que todos acatavam a destruição por vir. Um furacão de emoções invadia a mente, e de repente o impacto atingiu a casa. Todos foram arremessados contra a parede, que ao mesmo tempo ruía e se despedaçava no ar.
      A casa rachou e sucumbiu. Depois que o turbilhão passou, a casa estava destruída. A sala, onde todos estavam, havia sido completamente detonada. Os sofás estavam jogados de lado, a TV tinha quebrado, os armários se reduziram a tábua sobre tábua. A fiação elétrica estava toda exposta, deixando o ambiente mais perigoso. A parede da frente havia caído e o telhado tinha se inclinado na frente, formando uma espécie de rampa por cima da casa. Os quartos, mais atrás, estavam inteiros. Só estavam com as janelas quebradas, as paredes rachadas e os móveis revirados. Na cozinha, o botijão de gás havia explodido e detonado todo o cômodo. A cozinha estava em chamas, e o meu avô e meu pai procuravam pelas suas mulheres, que estavam embaixo dos escombros, gritando por ajuda. Depois de serem retiradas dos seus (quase) túmulos, averiguou-se que elas só tinham cortes e escoriações, como o meu pai e meu avô. Eles também tinham algumas queimaduras, mas depois do susto, eles mal se importavam.
      Todos eles saíram na rua para ver como o lugar estava. E rua, que antes era lisa e perfeita, agora era um pedaço de asfalto em cima de outro. A rua estava esburacada e rachada. A poeira ainda assentava, mas colunas de fumaça já eram visíveis se levantando das casas das redondezas. Meu pai deixou escapar um suspiro de medo, pois não conseguia, mesmo que tentasse, dizer alguma coisa. Com o tempo, várias pessoas se juntaram no meio da rua, algumas sangravam, outras não, mas todas estavam empoeiradas com se tivessem passado por uma tempestade de areia – o que de certo modo, de fato, passaram. Sirenes de ambulâncias podiam ser ouvidas por toda a cidade, dando idéia da proporção da destruição.  Visível da casa da minha avó, do centro da cidade erguia-se mais fumaça do que em outras regiões e no meio de tudo, um solitário prédio firmava-se como uma lápide no meio da desolação. De repente, poeira desceu dele, e ele ruiu. Uma densa poeira levantou-se, indo deitar-se nos escombros das casas mais próximas.
      Bem longe dali, lá estava eu, inconsciente, caído em um córrego. Neste momento, minha mãe lembrou-se de mim e desabou aos prantos. Meu pai a segurou antes que ela caísse no chão. Ela, raivosa, gritava aos quatro cantos querendo saber onde e como eu estava. No seu interior, um fio de esperança ameaçava extinguir-se a qualquer momento. Ela gritava e praguejava amaldiçoando quem soltara a bomba, mas sua expressão era frágil. Logo ficou em silêncio. Ajoelhou-se e começou a pensar consigo mesma, soluçando.   

Oitavo trecho


7. Tentam fazer um plano
      Meus pais estavam preocupados. Corriam a cidade indo para a casa dos meus avôs. Minha mãe estava em prantos, preocupada comigo. Ela queria me achar
      Meu pai tentava a todo o momento confortar minha mãe, mas ela estava perdida em seus pensamentos. Minha mãe se chamava Isis, e meu pai se chamava Yuri. Minha mãe tinha olhos penetrantes, cinzentos. Seu cabelo era castanho, bem volumosos e longos, que eram encaracolados nas pontas. Tinha um corpo esbelto era alta, e tinha uma pele acobreada. Já meu pai, era alto também, mas tinha olhos negros e cabelo preto salpicado de fios brancos. Seus cabelos eram bem curtos, pois ele havia raspado recentemente. Tinha um cavanhaque. Suas bochechas eram rosadas, e ele era muito forte. Dono de um carisma incomparável tinha muitos amigos. Sua pele era toda rosada, pois ele não gostava de tomar muito sol. Meu pai era forte, pois quando era criança, trabalhava com o pai na plantação de macieiras. Ele colhia e levava maçãs numa carriola, para vender na cidade.
      Eles chegaram à velha casa dos meus avôs. A casa, na frente, tinha um jardim exuberante, que dava cor à vizinhança. Perto da porta de entrada, um velho carvalho lançava sua sombra no caminho de pedras que percorria o jardim. Tulipas e jasmins ondulavam com a brisa, sendo acompanhadas por abelhas e besouros. Beija-flores debruçavam-se sobre as flores, e uma trepadeira decorava a cerca baixa que delimitava a frente da casa. Uma coruja dormia no carvalho, e o Peppe, o papagaio, grasnava de sua gaiola, ao longe. Um pica-pau bicava o carvalho em busca de alimento, e a casa, que erguia- se no meio de tudo aquilo, era coberta de hera. O silêncio calmante só era cortado por eventuais trinados de pássaros e alegres andorinhas.
      Lá dentro, meu avô, minha avó e meus pais discutiam sobre como iriam me resgatar. Eles sabiam que a região onde eu estava era um território com o destino pré-determinado: iria entrar em uma guerra feroz a qualquer momento, e era isso que fazia minha mãe se preocupar. Eu estava lá no meio!
      Eu havia ido acampar com os meus amigos perto do córrego que mais tarde foi minha base de sustentação para não morrer. Estávamos em cinco, mas depois da bomba eu não encontrei nenhum.
   
      Meus pais traçavam um plano. Não poderiam correr o risco de serem mortos me resgatando. Havia rumores de que o tiroteio por lá já havia começado – e foi nessa hora que eu e meus amigos saímos de nossas barracas e fugimos.
      Meu pai se levantou e caminhou até a janela, uma daquelas de estilo antigo, que vão até o chão. Ele olhou pra fora, pensativo. Estava tudo muito calmo. De repente, um ruído ensurdecedor veio de cima. Três magníficos caças passaram em alta velocidade, fazendo a terra tremer. Passaram tão rápido que quase não deu para vê-los. Não demorou e eles sumiram no horizonte. Um deles carregava uma bomba.

Sétimo trecho


6. O puma gigante
      Acordei com um farfalhar de folhas. Algo ou alguém estava me espreitando. Abri os olhos e vi um grande puma me rodeando. O cheiro do meu sangue devia tê-lo atraído. Comecei a procurar minha pistola. O animal sentiu meu pânico e começou a se aproximar. Eu não conseguia achar a arma, e o puma estava chegando cada vez mais perto. Quando o felino estava a um salto de distancia, achei a pistola e dei um tiro pra cima pra ver se afugentava o bicho. Houve uma revoada de pássaros, e o puma hesitou por alguns segundos, mas logo depois continuou a se aproximar. Arregalou os olhos cinzentos e começou a rosnar e parecia não ter sido intimidado com o barulho do tiro. Eu não queria matá-lo, mas parecia não ter escolha. Antes de qualquer coisa, atirei uma pedra em sua cabeça para ver se o assustava. Não funcionou. Ele só ficou mais nervoso e seus músculos se retesaram, preparando para saltar. Saltou. Quando ele estava a alguns centímetros de mim eu atirei com a pistola. Acertei o bicho em cheio no peito. Ele emitiu um silvo macabro. Cambaleante, ele me encarava, tomando fôlego. Depois disso, ele entrou na mata. Mancando e ganindo, deixou um rastro de sangue na mata. Esse não iria viver por mais tempo.
Já era de manhã, e o sol atravessava as fendas no denso manto de folhas das copas das árvores. O aroma matinal da terra molhada, e o frescor da manhã purificavam minhas narinas. Respirei fundo. O ar limpo renovou minhas energias. Minhas queimaduras já davam sinais de melhora, mas ainda ardiam muito, com a formação de cascas por cima. Fiz o desjejum comendo alguns pepinos e bebendo um pouco de água. Após terminar, entrei na mata seguindo meu caminho.

Sexto trecho

5. A cirurgia macabra
       De repente, senti uma dor no pé. Logo me lembrei da necrose que carregava. Aquilo exalava um fedor pútrido de pele e carne morta. Peguei o canivete que tinha encontrado e pus-me a cortar o ferimento. Era um processo árduo e doloroso, mas eu parecia já ter me acostumado com a dor. O canivete não estava afiado o suficiente, fazendo com que a carne fosse dilacerada. Eu estava inexpressivo, mas um espasmo involuntário me fizera acordar do meu devaneio. Eu acabara de dilacerar parte de um nervo, e a dor percorria o meu corpo. Espasmos seguidos vindo sem parar me faziam ter a sensação de que a minha cabeça iria explodir. Eu me contorci tentando amenizar a dor. Suava frio. Estava em êxtase, e os espasmos não cessavam. A dor era tanta que eu fiquei tonto. Por fim, a dor foi acabando, os espasmos cessando, até que eu consegui ouvir os batimentos cardíacos vibrando no meu pé, e com eles, um filete de sangue se esvaia devagar.
      Eu não conseguia mais mexer meu pé corretamente, pois tivera que tirar um grande pedaço de carne dele. Só agora, olhando para o rombo que ficou, foi que eu pude perceber a real dimensão do estrago. Refiz as ataduras e os curativos, peguei um remédio contra dor que eu tinha, comi algumas barras de cereal e alguns pepinos em conserva e fui dormir. Eu estava aquecido no meio de uma grossa camada de folhas. Eu estava tão exausto que nem me preocupei em me proteger de animais selvagens. Fiquei pensando no que ocorrera naquele dia, até que o sono me venceu.